quarta-feira, agosto 29, 2007
Poesia em tempo de guerra - Moçambique (V)
DESÂNIMO
Tento aliviar o desânimo que me atinge
na profundeza das lágrimas clandestinas!
quase perdido no lastro do caixão
moribundo que a vida finge
confortar num sonho mágico
que não acalenta meu coração.
Vieste participar no circo trágico
que nos atira para a engrenagem
miserável da nefasta guerra...
mas sem dares conta da miragem
os teus gritos a favor da paz
ecoarão até aos confins da terra.
Camarada Sousa que caíste
trespassado pela bala inesperada,
tal era o teu cansaço que não viste
a morte na ausência decretada!
Só limparei o desânimo se tiver
atirado com a mordaça ao inferno,
porque a memória me faz viver
e o teu corpo jaze no sono eterno.
Nangade, Março de 1966
(autor desconhecido)
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