sábado, agosto 25, 2007

Poesia em tempo de guerra - Moçambique (II)


PORQUE PROTESTO

Meu companheiro de infortúnio,
Madriana exangue que te finas...
já nem encontro o teu sangue
que se escoa das veias finas.
O sol não ouve o meu apelo
depois duma noite dolorosa,
o teu corpo arrefece, pesadelo
da vida que se escapa desditosa!

As palavras presas na garganta
aumentam o perturbante silêncio,
mas o protesto contra as balas
não ajuda a conjugar a razão
porque jazem os heróis frios
em terras onde a pátria apodrece
com a degradante governação.

Horas da raiva que se desvanece
neste cenário onde o prumo esquece
o desejo de fazer o que não faço:
- bater a todas as portas e janelas
e afugentar a corja do Terreiro do Paço,
para acabarem as nossas mazelas!

Napota, Março de 1966
(autor desconhecido)

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