quarta-feira, maio 09, 2012

Odisseia grega!




Odisseia grega derruba mercados

Os mercados operaram com fortes perdas na terça-feira pelo mundo, com euro e commodities também em queda, em meio a crescente preocupação dos investidores sobre o impasse político na Grécia. O líder da Coalizão da Esquerda Radical (Syriza), Alexis Tsipras, defendeu no mesmo dia o não cumprimento do acordo fechado com União Europeia (UE) e Fundo Monetário Internacional (FMI), além da suspensão de medidas prejudiciais aos trabalhadores, como demissões e cortes salariais. Se até a quinta-feira Tsipras não formar um governo de coalizão com os partidos socialista (Pasok) e conservador (Nova Democracia), com cujos líderes ele se reunirá hoje, é quase certo que a Grécia convoque novas eleições no mês que vem.

O resultado das eleições na Grécia e na França - onde o socialista François Hollande derrotou Nicolas Sarkozy, aliado da Alemanha na implantação de uma política de austeridade - levou a Comissão Europeia, órgão executivo da UE, a colocar na agenda a discussão sobre como estimular o crescimento econômico. A UE chegou a considerar ainda a convocação de uma reunião emergencial de líderes para o dia 23 de maio, mas a ideia não foi adiante.

Tsipras pediu aos líderes do Pasok e do Nova Democracia que enviem cartas à UE e ao FMI cancelando o acordo que garantiu o socorro à Grécia. Isso significaria que o país não adotaria cortes adicionais de 11 bilhões no mês que vem, condição para que continue recebendo os recursos de UE e FMI.

- O resultado das eleições gregas foi um voto contra um socorro bárbaro - disse Tsipras na TV grega. - Não haverá medidas adicionais de austeridade de 11 bilhões, e não serão eliminados 150 mil empregos.

Para analista, Grécia deixará o euro

Na Europa, os mercados tiveram a maior queda em quatro meses. Recuaram as Bolsa de Londres (1,78%), Paris (2,78%), Frankfurt (1,90%), Madri (0,80%) e Milão (2,37%). A Bolsa de Atenas, que na véspera despencara quase 7%, recuou 3,62% e atingiu o menor patamar em duas décadas.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou no menor patamar em quase quatro meses, tendo operado abaixo dos 60 mil pontos pela manhã. O Ibovespa, seu índice de referência, recuou 1,40%, aos 60.365 pontos, influenciado pela queda das commodities.

- O mercado teme que o impasse atrapalhe a liberação das próximas parcelas da ajuda à Grécia, que precisa cumprir metas de cortes de gastos. O FMI disse que vai aguardar a formação de um novo governo para ir ao país. Isso pode precipitar a saída da Grécia da zona do euro e cria uma percepção negativa para outras nações, como Espanha, Portugal e Irlanda - disse Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora.

Também mexeram com o mercado as declarações do analista do fundo hedge FX Concepts John Taylor, para quem a Grécia abandonará o euro, provavelmente, em junho.

- Os europeus não lhes darão mais dinheiro, o FMI não vai mais lhes dar o sinal verde. Eles ficarão sem recursos em junho - disse Taylor à Bloomberg TV.

Sem indicadores capazes de mudar o clima no mercado, o Standard & Poor's 500, que reúne as principais empresas dos Estados Unidos, recuou 0,43% e registrou sua menor pontuação em um mês. O Dow Jones caiu 0,59% e o Nasdaq, 0,39%.

Os temores sobre a Grécia atraíram investidores para os títulos do Tesouro americano, os Treasuries. O dólar avançou, assim, 0,94%, a R$ 1,939. É o maior valor desde 14 de julho de 2009 (R$ 1,969). O movimento acompanhou a oscilação do euro, que recuou 0,47%, a R$ 1,299. Foi o sétimo pregão seguido de baixa, maior sequência desde setembro de 2008. Lá fora, o euro recuou 0,4% frente ao dólar, a US$ 1,305, o menor patamar em três meses.

- A Grécia voltou a assombrar e, desta vez, o mercado americano não ajudou a segurar a queda das bolsas - disse Carlos Augusto Nielebock, especialista em bolsa da Icap Brasil.

Tsipras ainda ganhou um curioso aliado na luta contra a austeridade: Charles Dallara, diretor do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), que representou os bancos na renegociação da dívida grega. Em entrevista à rede americana CNBC, ele disse que é preciso ajustar o foco à realidade econômica.

- O foco ficou por demais concentrado em cortes orçamentários de curto prazo, o que criou o sentimento de que a situação não tem saída - disse Dallara. - Acho que a Alemanha terá de reavaliar a atual estratégia.


Sem comentários:

Enviar um comentário