Odisseia
grega derruba mercados
Os
mercados operaram com fortes perdas na terça-feira pelo mundo, com euro e
commodities também em queda, em meio a crescente preocupação dos investidores
sobre o impasse político na Grécia. O líder da Coalizão da Esquerda Radical
(Syriza), Alexis Tsipras, defendeu no mesmo dia o não cumprimento do acordo
fechado com União Europeia (UE) e Fundo Monetário Internacional (FMI), além da
suspensão de medidas prejudiciais aos trabalhadores, como demissões e cortes
salariais. Se até a quinta-feira Tsipras não formar um governo de coalizão com
os partidos socialista (Pasok) e conservador (Nova Democracia), com cujos
líderes ele se reunirá hoje, é quase certo que a Grécia convoque novas eleições
no mês que vem.
O
resultado das eleições na Grécia e na França - onde o socialista François
Hollande derrotou Nicolas Sarkozy, aliado da Alemanha na implantação de uma
política de austeridade - levou a Comissão Europeia, órgão executivo da UE, a
colocar na agenda a discussão sobre como estimular o crescimento econômico. A
UE chegou a considerar ainda a convocação de uma reunião emergencial de líderes
para o dia 23 de maio, mas a ideia não foi adiante.
Tsipras
pediu aos líderes do Pasok e do Nova Democracia que enviem cartas à UE e ao FMI
cancelando o acordo que garantiu o socorro à Grécia. Isso significaria que o
país não adotaria cortes adicionais de 11 bilhões no mês que vem, condição para
que continue recebendo os recursos de UE e FMI.
- O
resultado das eleições gregas foi um voto contra um socorro bárbaro - disse
Tsipras na TV grega. - Não haverá medidas adicionais de austeridade de 11
bilhões, e não serão eliminados 150 mil empregos.
Para
analista, Grécia deixará o euro
Na
Europa, os mercados tiveram a maior queda em quatro meses. Recuaram as Bolsa de
Londres (1,78%), Paris (2,78%), Frankfurt (1,90%), Madri (0,80%) e Milão
(2,37%). A Bolsa de Atenas, que na véspera despencara quase 7%, recuou 3,62% e
atingiu o menor patamar em duas décadas.
A Bolsa
de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou no menor patamar em quase quatro meses,
tendo operado abaixo dos 60 mil pontos pela manhã. O Ibovespa, seu índice de
referência, recuou 1,40%, aos 60.365 pontos, influenciado pela queda das
commodities.
- O
mercado teme que o impasse atrapalhe a liberação das próximas parcelas da ajuda
à Grécia, que precisa cumprir metas de cortes de gastos. O FMI disse que vai
aguardar a formação de um novo governo para ir ao país. Isso pode precipitar a
saída da Grécia da zona do euro e cria uma percepção negativa para outras
nações, como Espanha, Portugal e Irlanda - disse Eduardo Velho,
economista-chefe da Prosper Corretora.
Também
mexeram com o mercado as declarações do analista do fundo hedge FX Concepts
John Taylor, para quem a Grécia abandonará o euro, provavelmente, em junho.
- Os
europeus não lhes darão mais dinheiro, o FMI não vai mais lhes dar o sinal
verde. Eles ficarão sem recursos em junho - disse Taylor à Bloomberg TV.
Sem
indicadores capazes de mudar o clima no mercado, o Standard & Poor's 500,
que reúne as principais empresas dos Estados Unidos, recuou 0,43% e registrou
sua menor pontuação em um mês. O Dow Jones caiu 0,59% e o Nasdaq, 0,39%.
Os
temores sobre a Grécia atraíram investidores para os títulos do Tesouro
americano, os Treasuries. O dólar avançou, assim, 0,94%, a R$ 1,939. É o maior
valor desde 14 de julho de 2009 (R$ 1,969). O movimento acompanhou a oscilação
do euro, que recuou 0,47%, a R$ 1,299. Foi o sétimo pregão seguido de baixa,
maior sequência desde setembro de 2008. Lá fora, o euro recuou 0,4% frente ao
dólar, a US$ 1,305, o menor patamar em três meses.
- A
Grécia voltou a assombrar e, desta vez, o mercado americano não ajudou a
segurar a queda das bolsas - disse Carlos Augusto Nielebock, especialista em
bolsa da Icap Brasil.
Tsipras
ainda ganhou um curioso aliado na luta contra a austeridade: Charles Dallara,
diretor do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), que
representou os bancos na renegociação da dívida grega. Em entrevista à rede
americana CNBC, ele disse que é preciso ajustar o foco à realidade econômica.
- O foco
ficou por demais concentrado em cortes orçamentários de curto prazo, o que
criou o sentimento de que a situação não tem saída - disse Dallara. - Acho que
a Alemanha terá de reavaliar a atual estratégia.
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