quarta-feira, novembro 21, 2007
Liberdade
Liberdade
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Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doiraSem literatura.
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O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
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Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
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Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
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Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
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O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
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Fernando Pessoa
sexta-feira, novembro 09, 2007
O Amor que sinto
O amor que sinto
é um labirinto.
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Nele me perdi
com o coração
cheio de ter fome
do mundo e de ti
(sabes o teu nome),
sombra necessária
de um Sol que não vejo,
onde cabe o pária,
a Revolução
e a Reforma Agrária
sonho do Alentejo.
Só assim me pinto
neste Amor que sinto.
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Amor que me fere,
chame-se mulher,
onda de veludo,
pátria mal-amada,
chame-se "amar nada"
chame-se "amar tudo".
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E porque não minto
sou um labirinto.
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José Gomes Ferreira
sábado, novembro 03, 2007
Poema
Poema
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A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita
A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita
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Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará
Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará
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Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento
Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento
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A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto
A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto
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Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
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E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada
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Sophia de Mello Breyner Andresen
Sophia de Mello Breyner Andresen
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